terça-feira, 27 de maio de 2014 @ 10:46
[aviso: esse texto contém muito nhenhenhé e clichesões, além de ser fruto de um fluxo de consciência. Eu não me responsabilizo por eventuais repercussões ou falta de coesão e pontuação, interprete-o como bem entender]


, quando eu comecei a chamar todo mundo de hipócrita, tinha uns doze pra treze anos, e foi por não saber lidar com as injustiças do mundo, o meu próprio tédio e angústia adolescente a despontar. Desde então, tudo foi se sucedendo. Ouvia los hermanos, mas só hoje, aos dezesseis, posso dizer que consigo entender o que eles tanto quiseram dizer.  Aos treze, tudo o que eu mais queria era inibir os sintomas e a loucura de um coração partido, além de ser livre, ter dezesseis (e emagrecer, diga-se de passagem). Com quatorze eu li "As vantagens de ser invisível", e passei a querer ser o Charlie, ou ter uma vida como a dele, com amigos tão legais quanto, e antes de completar quinze, decidi que assim seria.  Não me lembro muito bem de como as coisas aconteceram, mas hoje, vejo o quanto eu fui muito tola por pensar que ninguém mais tem problemas, e que eu sempre testemunho o fim do mundo.  Fiz amigos novos, não como os do Charlie, melhores! Conheci tanta gente que nunca fiz ideia que realmente poderiam existir. Nada como os anos pra curar os danos: meu coração, assim ò, do nada, puft, curou, e eu aprendi a lidar com as minhas inseguranças. As coisas vão acontecendo naturalmente, não há nada que a gente possa fazer. Amadurecemos, desabrochamos, viramos flor, a primavera inteira, e mudamos nossos horizontes. (pra você entender o que eu estou falando: Há uns três anos tudo o que eu mais queria era crescer, para ser como as meninas do colégio, hoje eu dou risada das coisas que escrevia e do que tanto idealizava, porque, no final das contas, onde é que eu estava com cabeça?!)  Se tem uma coisa que eu posso te garantir, é que as coisas melhoram, e que eu nunca estive tão feliz, por finalmente entender que eu não seria, de jeito algum, como as meninas da escola, e que toda aquela sofreguidão que eu senti agora faz sentido, pois se não fosse isso, eu te garanto, eu não seria eu.
sábado, 10 de maio de 2014 @ 20:31
Mais uma noite, mais um sábado que me senti indiferente, mais uma vez nos cantos, mais uma festa com adolescentes sendo adolescentes, mais um dia com adolescentes alcoolizados, mais um lugar, mais fumaça, mais tédio, outra vez sozinha, mesmo rodeada de gente, mais uma vez tentando se divertir em vão, mais uma vez olhando as pessoas por aí, olhando os casais, percebendo que de nada resta.
sexta-feira, 9 de maio de 2014 @ 14:11

E essas músicas de nada adiantam, e o meu chororô muito menos, eu só queria que algo fizesse sentido, e que esse buraco sumisse, ou sei lá, se preenchesse de mim, mas eu não sou suficiente (ou autossuficiente) e fingir que nada acontece é pior.   Nada mais faz sentido, e talvez eu devesse me isolar do mundo, ou tentar inibir tudo o que eu sinto, porque eu sempre SEMPRE (sem-pre) seeeeempre potencializo tudo o que sinto, e no momento, o que sinto é um grande nada, ou um grande tudo com valor de nada.  Talvez eu seja o problema de tudo isso, ou talvez só esteja esgotada. Precise de um tempo pra pensar, pra fugir, e mudar.

Por que eu estou escrevendo? não me pergunte, acho que é pra ocupar o tempo e impedir que eu chore de marasmo
sábado, 22 de março de 2014 @ 13:01
E eu finalmente posso te dizer que estou fazendo tudo do jeito certo (quem diria, hein?! Eu falando isso!), apesar das notas baixas e repentinas, apesar da Camila, apesar daquele "moreno de cabelo enroladinho", das pessoas vazias das segundas e quartas, dos feriados em casa, dos vizinhos, do metrô e das músicas do rainbow.

Acho que o mundo passou a ser tão leve, e eu, só sigo o meu rumo em meio a estas pessoas alheias, aos rifles de guitarra, às repetições de Layla (sim, do Clapton) e ao meu cansaço, às vezes emocional. Agora tenho um real motivo pra me sentir cansada, e o Lucas me procura ainda pra esvaziar seu pesar e encher seu coração e alma com pouquinhos de mim, porque como ele disse "eu (ela) sou (é) um pouco dela (de mim)". Mas em meio às lidas do Antônio, os cds do camelo, o tumblr da teresa e as aulas de inglês, tudo parece diferente, e o mundo do nada virou meu, e meu coração não se partiu, e nada mais importa, porque eu estou feliz (mas não posso contar pra todo mundo que quem é feliz, é feliz baixinho, pra ninguém roubar a felicidade)

e é só pra você saber que, mesmo se ficar tudo mal, não tem problema, porque depois volta tudo a ser assim
quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014 @ 14:20
Acho que perdi a mão de escrever, ou novamente a vontade.
Olho pra dentro e vejo uma constelação, o mundo entre os meus átrios, e meu coração engaiolado na prisão que eu tento ser, todos prontos para sair feito poesia ou só para se precipitarem em outras galáxias, outras mãos, outros olhares, outras vozes, outros eus, outros alguéns.
Mas eu estou em processo de expansão, e o mundo é tão pequeno da minha janela.
A imensidão do azul não cabe mais nesse apartamento, não cabe mais em mim, mesmo que seja o mais próximo que eu tenho das estrelas. Ainda sim é     l    o     n    g    e,      lonnnnnnngo, mas plausível.
E eu não vou ficar mais me precipitando, chorando pela vida que existe no mundo, enquanto eu a observo passar, cantando coisas de amor, NÃO!  [isso é um basta] e me recuso a ser menos do que eu quero, me recuso a ver os velhos do condomínio morrer sem dar um abraço voraz na vida, me recuso a passar a noite do sábado com o dominó, e a tevê

A vida é tão curta pra isso. Tão tangível, e é isso o que levo na mala: a incerteza do futuro, e a promessa do presente.
E de novo, eu nem sei porque escrevi,
é só pra talvez deixar o coração mais leve,
e sair por aí pra dançar,
pra me amar
amar
a mar
ir ao mar [tantos outros mares]

porque você leu o título do blog, e eu estou prestes a navegar, E navegar é mais que preciso, viver que não é preciso, mas mesmo assim eu vivo, ah! e como vivo

domingo, 29 de dezembro de 2013 @ 16:56
   Ah, o verão... Que época mais (obviamente) quente, feliz, literalmente calorosa, cheia de gente alegre indo à praia, tomando sorvete e o momento de levar um tapa na cara da realidade.
   Semana passada quase fui intimada a pagar a carteirinha do clube perto de casa, e tudo o que é desculpa aparece quando isso me acontece. “Ah, acordei tarde” “É muito cheio” “Não gosto da piscina de lá” “Mas eu vou sozinha? Não mesmo”, coisas assim, tudo pra maquiar o que eu não queria dizer para o meu pai: “EU NÃO VOU CURTIR O VERÃO, É OBVIO, PORQUE EU TÔ GORDA”, mas depois que eu disse isso a ele, caiu a minha ficha.
   Ainda nem fiz dezesseis anos e, desde que me lembro, estou cheia de neuras, desde a minha vizinha com “nossa, você ta cheinha” ou as minhas amigas da infância com o inesquecível “bea, desiste que você nunca vai emagrecer, você é gordinha mesmo” me atormentando. E assim, eu percebi que a partir do momento em que aparência começou a ser um fator determinante desse período, (ah, a adolescência!) eu nunca me aceitei, nunca.
   Lembro de ter uns oito ou nove anos, ficava me olhando na frente no espelho a cada refeição pra ver se a minha barriga tinha sumido, mas era barriguinha de criança, eu não entendia, e me achava E N O R M E. A partir daí foi só piorando.
   Aos doze comecei as aulas de ballet, mas as meninas da sala eram tão magrinhas, tão bailarinas, e eu era a gorda (pensava) que chegava em casa e chorava porque as amigas riam de mim por isso. Com treze, eu passei a inventar um monte de desculpas pra não sair de casa e me isolei com um caderno, onde eu anotava o que sentia, as músicas que ouvia, tudo. Esses dias eu parei pra ler esse tal caderno e foi preocupante, o meu ódio próprio já tinha sido semeado. Frases do tipo “Por que eu não sou bonita?”, “A pessoa mais repugnante do mundo”, “Não há nada em mim que tenha valor” ou então “Ninguém vai me amar se eu for gorda” (com um “Isso é tão hipócrita da minha parte” ao lado, ainda bem, eu não era assim tão tola) pularam do caderno, ao lado de desenhos distorcidos de mim, e agora eu vejo como aquilo era só a ponta do iceberg.
   Com quatorze anos eu vivi um inferno. E com esse inferno vieram episódios terríveis de automutilação, compensação e automedicação. Como se não fosse o bastante, meu coração estava partido e tudo ia de mal a pior. Lembro de me olhar no espelho e sentir tanta vergonha do que via, que acabava descontando em mim, no meu corpo, mas nada disso adiantou muito. Nessa época eu emagreci uns 5 kgs, e você pode perder todo o peso do mundo, mas nunca vai ser o suficiente se estiver doente. Passava dias em jejum, chorando na hora de dormir, me odiando tanto a ponto de desejar morrer e me machucando. Até que eu finalmente caí em consciência e percebi que nada daquilo estava me ajudando, e decidi parar.
   Dessa fase, me restaram algumas cicatrizes e uma lição de superação. É difícil ver o quanto se é bonita depois de tanto tempo com ideias distorcidas de si mesma, mas eu persisto, e o que disse ao meu pai foi o passo que precisava para perceber como eu achava que me aceitava, mas na verdade só maquiava o que não gostava.
   Então o verão veio, e a minha cabeça explodiu com aquele sentimento de “preciso parar de comer”, mas eu estou tão saudável, e tão feliz comigo que nem mesmo a barriguinha que vejo no espelho na hora de tomar banho me incomoda tanto quanto antes. Tá, não é uma vida perfeita e às vezes ainda tenho algumas neuras, mas a pior parte já se foi há tempos.
   Ainda vejo as garotas da colégio, tão esbeltas, tão belas, tão magras, e tão vazias. Vejo as fotos do tumblr, do lookbook e acho lindo as meninas com os espacinhos no meio das pernas, mas isso não me afeta mais. Porque eu pensava que só podia ser feliz se fosse magra, se as minhas estrias desaparecessem e meu sorriso, meu cabelo, fossem como o das meninas da escola, ainda bem que a gente cresce e amadurece, né? 
   E muita coisa aconteceu desde então. Cortei o cabelo, e ele já cresceu tudo de novo, mudei as músicas do celular, amadureci, troquei as amizades e me afastei de tanta gente que só me fazia mal e não me deixava ver como eu realmente sou, percorro a cidade de metrô, finalmente saí da escola e agora estudo no lugar mais legal do mundo (pra mim), onde conheci tanta gente que gosta de mim do jeito que eu sou, e estou até me preparando pra correr uma maratona.
   E eu prometo não criar mais desculpas pra não ir à praia, porque todo mundo tem as suas inseguranças, e se eu deixar isso me privar do verão tão tropical e tão brasileiro que sorri pra mim, a única pessoa perdendo serei eu, é por isso que estou finalmente me libertando dessa história que ficou escondida em mim por tanto tempo, e deixando eu ser feliz nessa estação, e estando plenamente ciente de que agora estou indo e fazendo tudo de um modo saudável, sem deixar que o medo do que pensem (ou do que vejam) me afete. Por que eu sou muito mais que aparência, eu sou muito mais que o meu jeans 40, sou até mais que essas coisas superficiais que costumavam me atormentar, e acredite você ou não, eu não sou gorda, mas o mundo me fez acreditar que eu era, e eu acreditei, mas sigo dizendo pra quem estiver lendo que eu sou linda! E nada mais vai fazer com que eu sinta o contrário.
segunda-feira, 16 de dezembro de 2013 @ 16:48
No primeiro colegial, com treze ou quatorze anos, eu gostava de um garoto chamado Márcio. Ele era branquinho e tinha os cabelos castanhos cacheados. Ele namorava a Priscila, uma menina bonita e riquinha e bailarina e de cabelos lisinhos e amiga de todas as outras meninas iguais a ela. Mas a Priscila e suas amigas não faziam sexo. E todo mundo era louco pra fazer sexo com elas. Eu era o que se podia chamar de beleza indefinida. Não era de todo mal, mas também não era a óbvia lindinha. Cabelo nem pro liso e nem pro cacheado e nem pra nada que pudesse ser um estilo ou moda ou até mesmo um cabelo. Roupas do mesmo jeito. Nem feias, nem bonitas. Corpo do mesmo jeito. Nem magra atlética, nem gordinha desleixada. Um meio do caminho que piorava muito quando era dia de uniforme. Não chegava a andar com as meninas feias mas nunca fui amiga da Priscila e das amigas dela. Eu era média. Foi daí que eu tive a ideia. Eu tinha algo que aquelas meninas não tinham: eu fazia sexo. E calmamente caminhei até o Márcio, na hora do recreio, e falei: quatro horas na minha casa, eu vou fazer sexo com você, tudo bem? Ele respondeu sério, sem rir, sem parar pra pensar: me passa seu endereço que eu peço pra minha mãe me levar. Saí pisando firme, com os olhos apertados e com as unhas enfincadas nas palmas das minhas mãos. Minha vontade era sair correndo e só voltar pra escola na outra encarnação. O que tinha me dado? Pois bem, às três da tarde, sem conseguir conter o coração e o intestino, tento expulsar minha empregada de casa. Mas o que você vai aprontar? Sua mãe sabe que vem um garoto estudar aqui? Maria, cadê aquela minha calcinha de renda branca? Convenço Maria a ir embora às quinze pras quatro. Prometo a ela que, se ela não contar nada pra minha mãe, a deixo ir embora todo dia mais cedo e também não conto nada. Quatro em ponto, vejo da janela do meu quarto um Escort vermelho parando em frente ao meu prédio. Márcio desce cheio de livros. Sua mãe o acompanha até a portaria. Ele entra. Meu coração vai parar na língua. Eu vou fazer sexo. Eu consigo fazer. Ele vai enfiar o pinto dentro de mim. Eu vou ficar bem quietinha até parar de doer. É isso. E amanhã, na hora do recreio, ele vai?. Ele vai o quê? Continuar namorando a Priscila, que é bailarina e tem o cabelo lisinho e é amiga das meninas mais bonitas da escola. E eu? Eu vou ter gêmeos, que ele não vai assumir, e eu terei que ir à escola e fazer as provas apesar da barriga. E serei motivo de fofoca pra sempre. E ele não vai falar comigo porque não sou exatamente linda e nem exatamente muito normal e ele nem é da minha turma. Seu pai vai ligar pro meu “precisa de alguma coisa?”. Meu pai não vai querer falar com ele, porque quem resolve as coisas mais difíceis é a minha mãe. E minha mãe não vai querer falar com ele, porque vai estar internada pelo susto. A campainha toca. Do olho mágico, vejo ele puxando de dentro de um livro e guardando no bolso uma fileira animada de camisinhas. Me sinto ofendida: esse menino tá achando mesmo que vou transar com ele? Eu era virgem aos quatorze e assim fiquei até os vinte e um anos de idade. Mas o Márcio, o garoto mais popular e bonito e charmoso e gente boa da escola, estava na minha casa. Abro a porta. Vejo que ele trouxe os livros de química, física e gramática. Tentando parecer descolada mas tremendo muito, pergunto qual matéria ele quer estudar primeiro. Qual? Ele ri, ensaiado: anatomia. E me empurra pro sofá. E vai direto pros meus peitos, sem nem me beijar na boca. Ah, então acho que é assim, né? Que se trata uma puta ou alguém de quem não se gosta. Aquilo tudo me faz mal demais. Se eu fosse uma princesa, teria um namorado pra ir ao shopping. Mas como sou a garota estranha, ele tenta ver meus peitos. E como eu sempre tive curiosidade em saber como era estar com um garoto realmente lindo e desejado, eu deixo. Mas se eu fosse uma princesa, ele estaria agora nervoso pra pegar na minha mão. Triste, triste, vou ficando tão triste. Por que não sou uma princesa? De repente. Puft. Scatapuft. Trililililim. Não sou mais a garota de treze ou quatorze anos, estranha, com o peito direito pra fora e um garoto inexperiente e afobado em cima deles. Estou ao lado da cena, escrevendo esse texto. Márcio é um ótimo personagem para uma historinha. A garota de calcinha de renda branca que mandou a empregada embora é uma ótima personagem também. Não sinto que ele tenta abrir a minha calça, mas leio “ele tenta abrir a calça dela”. Não sinto que ele começa a querer enfiar sua mão dentro da minha calça, mas leio “e ele começa a enfiar a mão dentro da calça dela”. E fico feliz quando, no parágrafo seguinte, descubro que a garota levanta e grita “chega, desculpa, mas eu não consigo, vai embora, por favor, eu não sei o que me deu de deixar você vir aqui”. Márcio, frustrado e muito tímido, veste sua roupa, devagar, como que tentando ainda pensar em algo que salvasse sua tarde de sexo selvagem. Muito provavelmente a primeira. Ela fica deitada, com a camiseta e a alma amassadas. Márcio vai embora. Ela sente uma dor profunda e se promete duas coisas: um dia vou ser uma escritora e um dia vou ser uma princesa.

Layout by: Quincy Fadul